Fernando Oliveira está na sapataria Boa Vista há 70 anos. Começou como empregado e, passados 24 anos, tornou-se patrão numa sociedade com dois colegas. Ali chegaram a trabalhar mais de 20 pessoas. Fabricavam todo o tipo de calçado: camurça, verniz, para o campo, para senhora. Em tempos idos trabalhavam “até à uma da manhã” para dar resposta às encomendas, que até vinham do estrangeiro. O negócio começou a decair há 20 anos: “Monchique tem pouca gente. Os mais novos vão-se embora por falta de empregos. Antes havia 15 mil pessoas, agora há 5 mil”. Aos 89 anos, está sozinho. Para se ocupar, continua a arranjar sapatos.
Fernando Oliveira spent 70 years in shoe shop Boa Vista. He started as an employee and 24 years later became the boss in a company with two colleagues. More than 20 people were employed there. They manufactured all kinds of shoe wear: suede, varnish, field shoes, women’s wear. In the past they worked “until one in the morning” to cope with orders, even from abroad. Twenty years ago the business started to deteriorate: “Monchique is a small community. The youth leaves because of a lack of employment. There once were 15.000 inhabitants, today only 5.000”. At the age of 89 he finds himself alone and repairs shoes to keep him busy.
José Álvaro das Dores tem 76 anos e é conhecido por José das Mobílias. Aos 15 anos foi aprender o ofício de talhador e carpinteiro com um tio e aos 23 abriu a sua loja: “ A primeira venda foi uma tábua de passar por 55 escudos”. O negócio começou a valer a pena depois do 25 de Abril com o aumento do poder de compra. Recorda que as pessoas compravam mais depois de venderem o gado na feira da terra, Monchique. A partir de meados dos anos 80 as vendas diminuíram e a partir de 2000 pioraram: “Com a mudança para o euro, as coisa ficaram mais caras. Hoje não se vende nada.” Ainda assim, mantém a loja aberta. Passa o tempo a estudar medicina natural e a fabricar mezinhas para vários males, que são muito procuradas na vila.
At 76 José Álvaro das Dores is known as José Furniture. He learned the cutting and carpentry crafts from his uncle at 15 and opened his shop at 23: “My first sale was an ironing board for 55 escudos”. With the rise of buying power following the 1974 revolution his business started to grow. He remembers customers coming in to buy after having sold livestock at the local Monchique fair. In the mid-eighties sales diminished and worsened from 2000 onwards: “With the arrival of the Euro everything became more expensive. I hardly sell anything today”. Even so, he keeps his shop open and passes time studying natural medicine and inventing country remedies for several ailments, high in demand in the village.
Matias Mestre Pereira, ferreiro, é: “Mestre no ofício e Mestre no nome”. Começou a aprender aos 19 anos e depois de “enrolar foices” e fazer muitas ferraduras passou pela Alemanha durante quatro anos, mas “nesse tempo ganhava-se pouco lá”. Regressou, esteve 40 anos com a oficina aberta e andou de monte em monte a ferrar bestas. Fechou a porta há dez anos, quando deixou de haver procura e “quiseram que me colectasse, que fizesse casas de banho… o espaço não era meu”. Olha para o passado sem saudade: “Falar de coisas antigas, eu não gosto, era só penar”, recorda. “Muita vezes não pagavam ao ferreiro porque não tinham. Não se podia dizer que se tinha fome. Ia-se preso”. Hoje as adversidades são outras: “Havia 200 moços no meu tempo, agora existem sete crianças na freguesia”. Na aldeia do Pereiro o seu neto é a única criança.
Blacksmith Matias Mestre Pereira is “Master of the craft and Master in name”. He became an apprentice at 19 and after “rolling sickles” and hammering countless horseshoes he lived in Germany for four years, but “in those days the pay was poor there”. He returned, kept his workshop open for 40 years and went from mount to mount to shoe donkeys and mules. When the demand ceased 10 years ago he closed his door: “they wanted me to register and build bathrooms… it wasn’t my thing”.He reviews the past without missing it: “I don’t like to talk about things from the past, it only causes grief” he recalls. “People often didn’t pay the blacksmith because they couldn’t. One cannot say we were hungry. We just were imprisoned”.Today’s challenges are different: “In my days there were 200 kids; today there are only seven children in the parish”. His grandson is the only child in the Pereiro village.
António Ramos nasceu em 1940. Cedo começou a ajudar o pai que era moleiro na Azenha da Malhada e com ele ficou durante 25 anos. Nos intervalos faziam cestos. Passou pela Força Aérea, onde fez a 4ª classe. Quando casou aos 30 anos, começou a fazer cortiços: “Cheguei a ter 86 corchos”. Cuidava das colmeias com zelo: “Em Março, o mês da criação, ia todos os dias ver as abelhas”. Tinha que as proteger da varroa, um parasita perigoso e garantir o seu bem estar: “ Morre o patrão, morrem as abelhas”. Trabalhou um ano sozinho na azenha e, mais tarde, esteve seis anos no moinho da Foupana. Dedicou-se também à agricultura, sobretudo a partir de 1985. Há 20 anos começou a dedicar-se à cestaria com mais intensidade. Na sua casa, na Alcaria Queimada, inventou várias técnicas para manter as canas húmidas durante mais tempo e assim conseguir cestos de maior qualidade.
António Ramos was born in 1940. From early on he helped his dad who was a miller in Azenha da Malhada and continued to do so for 25 years. During intervals they wove baskets. At the Air Force he completed his 4th class. Married at thirty he started to assemble cork beehives: “I once had 86 corks”. He treated his beehives with fervour: “In March, the breeding month, every day I went to see my bees”. To verify their well-being and protect them from the varroa mite, a dangerous parasite: “When the caretaker dies, the bees perish as well”. For a full year he worked at the watermill on his own and later moved to the Foupana mill for six years. From 1985 onwards, he also became a crop farmer. Twenty years ago he started to focus more intensively on basketry. At this home in Azenha da Malhada he devised several techniques to keep the canes humid for longer periods, improving the baskets quality.